Por Renata Bueno 
 • 
 15 de outubro de 2025 
 
 A Itália deu início a uma das maiores reformas administrativas de sua história recente. A Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que transforma por completo a forma como o Estado italiano se relaciona com seus cidadãos e empresas que vivem fora do país.                                                                         Entre as mudanças mais significativas estão a                                          criação de um sistema centralizado para reconhecimento da cidadania italiana                                           , a                                          integração total do AIRE                                           e a                                          modernização de serviços consulares                                           até o ano de                                          2028                               .                                                                                                  Fim da cidadania italiana nos consulados: nasce o Serviço Central do MAECI                                                             Um dos pontos mais comentados da nova lei é o                                          fim da análise da cidadania italiana por descendência (iure sanguinis) nos consulados                               .                                                                          A partir de                                          2028                                           , todos os pedidos deverão ser                                          enviados diretamente a um novo órgão central                                           , vinculado ao                                          Ministério das Relações Exteriores (MAECI)                               . Esse serviço será o responsável exclusivo por avaliar e reconhecer a cidadania de quem tem origem italiana no exterior.                                                                                                  A mudança elimina as diferenças de tempo e tratamento entre consulados, um problema histórico que fazia com que alguns processos demorassem mais de uma década em determinadas jurisdições.                                                                                                              Durante o período de transição, entre                                          2026 e 2027                                           , os consulados ainda poderão receber pedidos — mas em volume limitado:                                          apenas o mesmo número de processos concluídos no ano anterior                               , respeitando um mínimo de 100 por sede.                                                                                                  Além disso, a nova legislação define:                                                             Prazo de análise de até 36 meses                                               (antes eram 24).                                                                  Apenas documentos originais                                               serão aceitos.                                                                  Comunicações por e-mail                                  , mesmo sem assinatura digital.                                                      Possibilidade de empresas terceirizadas                                               cuidarem da digitalização e arquivamento, com custos repassados ao requerente.                                                                                                                                     O governo italiano defende que essa centralização garantirá                                          transparência, rastreabilidade e padronização                                           — três pontos frequentemente criticados pelos cidadãos que enfrentam filas e burocracia excessiva nos consulados.                                                                                                             AIRE será conectado ao sistema nacional e passará a ter sanções                                                             O                                          AIRE (Anagrafe degli Italiani Residenti all’Estero)                                           , que hoje funciona de maneira descentralizada, passará a integrar o                                          banco de dados nacional (ANPR)                               , o mesmo usado pelas prefeituras italianas.                                                                                                              A meta é                                          eliminar divergências                                           entre cadastros, facilitar a atualização de endereços e simplificar a comunicação entre quem mora fora e os órgãos públicos na Itália.                                                                                                             Entre as principais mudanças:                                                             Multas de 200 a 1.000 euros                                               para quem não fizer o registro no AIRE.                                                                  Comunicação automática de retorno à Itália                                  , feita diretamente entre o município, o consulado e o Ministério do Interior.                                                      Critérios mais claros                                               sobre quem deve constar no AIRE, incluindo exceções para diplomatas, militares e professores enviados ao exterior.                                                                                                                         A modernização promete reduzir erros, evitar duplicidades e garantir que italianos no exterior tenham acesso a direitos de forma mais ágil.                                                                                                  Dupla legalização volta a valer para documentos estrangeiros                                                             A nova lei também restaura um procedimento tradicional: a                                          dupla legalização                                           .                         Documentos emitidos fora da Itália precisarão ser                                          reconhecidos primeiro pela autoridade local                                           e, em seguida,                                          pelo consulado italiano competente                               .                                                             A medida busca reforçar a autenticidade das assinaturas e resolver problemas práticos enfrentados por quem apresenta documentos em diferentes jurisdições.                                                                                                  Documentos e passaportes com novas regras de emissão                                                             No campo documental, a Itália também avança na                                          digitalização dos processos                               .                                                                         A                                          carteira de identidade eletrônica                                           , por exemplo, poderá ser solicitada                                          diretamente em municípios italianos por cidadãos residentes no exterior                               , sob regulamentação conjunta do MAECI e do Ministério do Interior.                                                                                                              O documento, porém,                                          só terá validade internacional                                           se não houver impedimentos legais, nesses casos, trará a observação: “Documento non valido ai fini dell’espatrio”.                                                                                     As regras para                                          emissão de passaportes                                           também serão modernizadas, priorizando sistemas eletrônicos e maior integração de dados.                                                                                                             Investimento público e nova estrutura administrativa                                                             A criação do novo sistema central exigirá                                          investimento anual superior a 8 milhões de euros até 2028                               .                                                                         O MAECI receberá                                          reforço de 87 novos servidores públicos                                           , entre dirigentes e assistentes, e parte das taxas pagas por pedidos de cidadania será                                          redistribuída aos consulados                               , garantindo recursos para a contratação de pessoal local e melhoria de atendimento.                                                                                                  Caminho político e próximos passos                                                             A proposta foi aprovada na                                          Câmara dos Deputados                                           com                                          144 votos a favor, 87 contrários e 5 abstenções                               , mesmo com 68 parlamentares ausentes por missão.                                                                                As disposições para essa revisão                                           seguem agora para o                                          Senado                               , onde poderá receber ajustes antes da aprovação definitiva.                                                             O governo italiano afirma que a reforma pretende                                          tornar os serviços consulares mais modernos, uniformes e eficientes                               , encerrando disparidades regionais e longos períodos de espera que afetam milhões de descendentes italianos no exterior.                                                                                                              Se confirmada sem alterações, a nova estrutura entrará em vigor                                          a partir de 2025                                           , com                                          implementação completa prevista para 2028                                           .                                    Fonte:                                          Portal Italianismo